Internacional
Bolsonaro usa redes sociais para manipular, diz Nobel da Paz
Publicado
23 de junho de 2022, 13:21
Populistas digitais como o presidente Jair Bolsonaro usam plataformas de redes sociais para manipular usuários em detrimento da democracia, e os brasileiros precisam estar cientes de que estão sendo manipulados, segundo a vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2021, Maria Ressa. Ela compara a atuação de Bolsonaro na comunicação à campanha em que o americano Donald Trump disseminou a falsa alegação de que a eleição em que foi derrotado, em 2020, havia sido fraudada.
“Soem os alarmes. É claro que algo assim pode acontecer. Já está acontecendo. Vimos algo semelhante sendo preparado nas Filipinas, é um manual. A cartilha dos ditadores é clara, eles aprendem uns com os outros”, afirmou Ressa.
A jornalista filipina afirma também que esses líderes dizem o que as pessoas querem ouvir, apelando para o “nós” contra “eles”, em um processo tão definidor da História quando o que antecedeu a Segunda Guerra Mundial.
Ressa, que revelou denúncias contra o governo do ex-presidente filipino Rodrigo Duterte em seu portal Rappler e por isso enfrenta uma série de processos judiciais no seu país natal, conversou com O GLOBO durante o Fórum de Mídia Global, evento promovido pela empresa alemã de comunicação Deutsche Welle, em Bonn.
Vimos um ciclo de líderes se elegerem e depois perderem eleições usando as redes sociais. Isso quer dizer que elas já não são mais tão eficazes?
Não. Macron ganhou na França, mas Marine Le Pen cresceu para 40%. Sem mídias sociais, a radicalização, a polarização diminuiriam, o que permitiria que governos e jornalistas fizessem seu trabalho. A distribuição das notícias é o maior problema. É como se o cara que estivesse dirigindo o carro dissesse: só vou te levar onde quero ir, e só vou onde ganho mais dinheiro. Foi o que a tecnologia fez. Antigamente, os jornalistas faziam tanto conteúdo quanto distribuição, o que significava que a distribuição também era protegida por padrões e métodos éticos. Não manipulávamos, apenas desenvolvemos o ofício de contar uma boa história. Não mudávamos os fatos. Tudo isso é deixado de lado pelas plataformas de distribuição hoje, porque a estrutura de incentivos, o que eles recompensam, o que tem a maior distribuição, não é bom jornalismo. São mentiras misturadas com raiva e ódio. Isso é parte do que enfraquece o tecido de nossas sociedades e destruiu nossa realidade comum.
A senhora fez uma mudança em sua carreira, da mídia tradicional para a digital. Isso significa que você também é cética com a mídia tradicional?
De jeito nenhum. Os padrões e a ética do jornalismo permaneceram os mesmos, só a forma mudou. Mais de uma década atrás, abracei as mídias sociais, realmente acreditava que elas podiam promover o bem social. Parte da razão pela qual somos inimigos agora é porque os instintos de lucro [das empresas de mídias sociais] manipulam insidiosamente seus usuários. Eles estão nos usando como cães de Pavlov em detrimento da democracia, do jornalismo e do bem social. O Brasil é um exemplo perfeito. Você pega alguém como Bolsonaro, que, com o YouTube, saiu da extrema direita e foi levado para o centro. A mídia tradicional foi atrás. O que esses líderes fazem? Eles são populistas digitais. Dizem o que você quer ouvir, usam o “nós” contra “eles”. Um país como a Alemanha conhece os perigos disso. Estamos vendo isso se espalhar globalmente. Viktor Orbán, na Hungria, colocou na ideologia do Estado a teoria da grande substituição [que prega que a população branca cristã será substituída por imigrantes de outras cores e credos]. Essas são as raízes do fascismo. A tentativa de demonizar [o outro] é o núcleo de ” Mein Kampf ” de Hitler. Isso levou a uma grande violência naquele período. Precisamos estar cientes do que isso pode fazer hoje.
A senhora acha que devemos estar tão preocupados quanto antes da Segunda Guerra Mundial?
Pense no fato de o Comitê ter dado o Prêmio Nobel da Paz em 2021 aos jornalistas. A última vez que isso aconteceu foi em 1935. O jornalista se chamava Carl von Ossietzky, ele não pôde viajar para Oslo para receber a notícia porque definhava em um campo de concentração nazista. Acredito que, quando anunciaram que os vencedores do Nobel da Paz seriam Dmitry [Muratov, jornalista russo] e eu, foi um reconhecimento de que estamos de volta a esse momento existencial, em uma bifurcação. Vamos salvar a democracia? Ou vamos avançar para o fascismo? Acabamos de passar por eleições nas Filipinas, onde perdemos a batalha pelos fatos: 36 anos depois que Ferdinand Marcos e sua família foram depostos em uma revolta popular, seu filho e homônimo, Ferdinand Marcos Jr., ganhou por maioria esmagadora. Por quê? Eles usaram operações de informação desde 2014 para mudar a História e transformar o pai de pária em herói.
Quem são os líderes que ameaçam a democracia hoje?
Sabemos quem são. O problema é que o equilíbrio de poder geopolítico vai mudar: são líderes democraticamente eleitos. A pergunta que sempre faço é: se você não tiver integridade de fatos, como terá integridade eleitoral? Onde está a linha em que os cidadãos em uma democracia têm livre arbítrio para escolher quando estão sendo manipulados insidiosamente pelas operações de informação viabilizadas pelas plataformas de mídia social? O Quênia tem eleições em agosto, o Brasil em outubro, os EUA terão eleições de meio de mandato em novembro. No ano que vem, os maiores países ao redor do mundo terão eleições. Indonésia, a maior população muçulmana do mundo; na Europa, Polônia. À medida que os cidadãos elegem mais populistas autoritários digitais, o mundo real muda, o equilíbrio de poder muda e talvez empurremos o mundo na direção de autocratas, do fascismo no seu pior. Quem dirá se será melhor ou pior? Tendo a acreditar em liberdade e igualdade, foi assim que cresci como jornalista, mas precisamos estar atentos às tendências que estão acontecendo.
Por que a senhora diz que um movimento similar ao Stop the Steal [Pare o Roubo, nome usado por Donald Trump em sua campanha em que alegava falsa fraude em 2020] já está acontecendo no Brasil?
Soem os alarmes. É claro que algo assim pode acontecer. Já está acontecendo. Vimos algo semelhante sendo preparado nas Filipinas, é um manual. A cartilha dos ditadores é clara, eles aprendem uns com os outros. O que está acontecendo na Ucrânia também está se infiltrando em todas as nossas democracias. A doutrina militar russa inclui guerra de informação. É uma arma potente. Em 2014, os ucranianos foram às plataformas de mídia social, ao Facebook, e contaram o que estava acontecendo. O que vimos é a mesma coisa, contas falsas semeando uma narrativa de baixo para cima. Em 14 de maio de 2014, em Genebra, Sergei Lavrov [chanceler russo] disse exatamente a mesma coisa que uma conta falsa que mais tarde foi derrubada pelo Facebook havia dito um dia antes sobre o neonazismo em Odessa, como os judeus estavam sendo maltratados. Era mentira. Mas é a mesma metodologia, de baixo para cima, de cima para baixo, e o mundo não sabia o que fazer. A anexação da Crimeia começou. O que você faz com a informação de que você não gosta, a verdade? Você a suprime e a substitui. É isso que as operações de informação fazem. Vi isso no meu país, como a mídia tradicional e digital foi tirada do centro do ecossistema de informações e substituída por redes de propaganda. Isso não é igual à propaganda antiga. É como a diferença entre uma planilha de Excel e big data. É transformador e tornou-se um sistema de modificação de comportamento. Muda o que pensamos. E porque o que pensamos muda, a forma como agimos muda.
O que estamos vendo agora é culpa de líderes específicos ou é uma revolução sociocultural?
É uma tempestade perfeita. A tecnologia que está distribuindo nossas notícias está nos manipulando, porque o modelo de negócios quer reter sua atenção. Houve dois grandes casos de mudanças fundamentais na tecnologia. Na era industrial, no século XIX, a commodity era o trabalho. A commodity hoje, na economia da atenção, é a sua atenção. Eles querem mantê-lo em suas plataformas. Você deveria aprender, mas não está aprendendo nada. Como fazem isso? Deixando você com raiva. Gerando indignação moral. Assim você continua rolando a tela e compartilhando. Toda vez que você faz isso, eles ganham mais dinheiro com seus dados. É um ciclo de retroalimentação prejudicial. O que precisamos fazer é: a longo prazo, educar, a médio prazo, legislar, a curto prazo, conscientizar. É a sociedade civil. É como o que a Ucrânia aprendeu. Você tem que voltar para o mundo real, ver os laços que unem e mobilizam as comunidades. O mundo mudou fundamentalmente, onde você coloca sua atenção é o que dará sentido à sua vida. Não deixe que ela perca o sentido. Isso é o que a mídia social tem feito conosco. Me preocupo com nossos filhos.
A senhora viajou muito pelo mundo. Qual a imagem que o Brasil tem hoje?
Nos preocupamos com a Amazônia, porque diretamente relacionado à batalha pelos fatos e pela verdade está o clima. E essas histórias climáticas não se espalham nas mídias sociais, são muito chatas, mas é algo existencial. O Brasil pode ser um ponto de inflexão de tudo, tanto de governança quanto de clima. O que as plataformas de tecnologia mostraram é que os seres humanos têm mais em comum do que diferenças, que todos estamos sendo manipulados da mesma forma, nossa biologia é usada para nos manipular. Há uma ótima citação do biólogo E. O. Wilson: a maior crise do nosso tempo são nossas emoções paleolíticas, nossas instituições medievais e nossa tecnologia divina.
Qual lição você deixa para as eleições deste ano no Brasil?
Bolsonaro, como Marcos, viaja com seus próprios videobloggers. Não deixem um líder evitar perguntas difíceis. Se o candidato se recusar a responder a essas perguntas, é um problema. Este é um momento único no século, é um momento existencial para o clima e para a nossa democracia. O fascismo está vencendo. Nada contra Bolsonaro, não é pessoal, só precisamos ter certeza de que você escolhe em quem acredita, de que você terá as informações necessárias para fazer a escolha certa.
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Internacional
Aborto: onde o procedimento é banido, restringido e está ameaçado
Publicado
27 de junho de 2022, 15:36
Desde que a Suprema Corte dos Estados Unidos revogou o acesso ao aborto como um direito constitucional no país — medida considerada um retrocesso de mais de 50 anos —, as políticas sobre a interrupção da gravidez têm sido um dos assuntos mais comentados no mundo. Nos Estados Unidos, realizar um aborto não é totalmente proibido, uma vez que cada estado pode determinar suas próprias políticas sobre a realização do procedimento. Mas, em quase 20 países do mundo, cessar uma gestação não é permitido em nenhuma extensão daquele território, ou circunstância. Este é o caso de muitas nações africanas, como Egito, Senegal e Madagascar, mas também de outras partes do mundo. Em todo mundo, mais de 40% das mulheres em idade fértil vivem em Estados com leis restritivas.
No continente sul-americano, o acesso ao aborto é particularmente difícil e apresenta muitas limitações. No Brasil, interromper uma gravidez é proibido, exceto em três casos: quando a gestação é decorrente de um estupro, quando a vida da mulher está em risco ou se o feto apresentar anencefalia, ou seja, quando não há desenvolvimento cerebral. Venezuela, Peru, Bolívia e Paraguai seguem a mesma toada — o procedimento é proibido, mas há exceções. Honduras, que já proibiu o aborto, inclusive em casos de estupro ou incesto, anomalias fetais graves ou quando a vida ou a saúde da mãe estivesse ameaçada, aprovou uma reforma constitucional em janeiro de 2021 que endureceu ainda mais a legislação.
O aborto é totalmente proibido no Suriname, na América do Sul, e na Nicarágua e em El Salvador, na América Central. Neste último, inclusive, uma mulher foi condenada a 30 anos de prisão por ter sofrido um aborto espontâneo após passar por uma emergência de saúde durante a gravidez.
Por outro lado, na América, o aborto é legalizado nas Guianas, na Argentina e no Uruguai. Na Colômbia, no Chile e no México, a interrupção da gestação é descriminalizada.
Na Europa, uma proibição total do aborto é uma exceção. Em Malta, mulheres que interrompem uma gravidez uma pena que varia de 18 meses a três anos de prisão. O procedimento também é proibido nos dois microestados de Andorra e no Vaticano, dois dos países mais católicos do mundo. Em outubro de 2020, o Tribunal Constitucional da Polônia tornou o aborto praticamente ilegal, eliminando a possibilidade de recorrer a ele em caso de anormalidades fetais. Esse critério dizia respeito a mais de 95% dos mil abortos legais realizados a cada ano no país. O procedimento segue sendo permitido em casos de estupro, incesto ou se a gravidez representar um perigo para a mãe.
Segundo o jornal Le Monde , embora o aborto seja legal para até 12 semanas de gravidez na Itália, na prática, o procedimento é muito inacessível, em grande parte devido a chamada “objeção de consciência”. Como explicou o iG em reportagem publicada no último dia 12 de maio, trata-se de uma brecha na lei na qual um médico ou profissional pode se recusar a prestar um serviço caso ele vá contra seus princípios e valores. Em 2019, 67% dos ginecologistas italianos se recusaram a realizar um aborto, de acordo com os últimos números do Ministério da Saúde. Este número sobe para 80% em cinco das 20 regiões italianas.
Ainda na reportagem, Julia Rocha, coordenadora da ONG Artigo 19, que realiza o Mapa do Aborto Legal, explica que, caso um profissional alegue objeção de consciência, o hospital precisa procurar outra pessoa dentro do quadro de funcionários para realizar o aborto. Se não houver nenhum outro profissional em serviço, em teoria, ele é obrigado a fazer de qualquer maneira. Mas, não é isso que acontece.
Em muitos países, o aborto é legal apenas quando a vida da mulher está em risco, uma condição extremamente restritiva: Costa do Marfim, Líbia, Uganda, Sudão do Sul, Iraque, Líbano, Síria, Afeganistão, Iêmen, Bangladesh, Mianmar, Sri Lanka, Guatemala, Paraguai e Venezuela. Em outros, como Irlanda, Irlanda do Norte e Tailândia, o acesso ao procedimento só foi concedido recentemente.
Segundo a OMS, entre 2010 e 2014, ocorreram no mundo cerca de 55 milhões de abortos, dos quais 45% foram realizados de forma insegura. No Brasil, dados sobre aborto e suas complicações são incompletos. Mas, de acordo com a última edição da PNA (Pesquisa Nacional de Aborto), realizada pelo Anis Instituto de Bioética e pela UnB (Universidade de Brasília), em 2015, 417 mil mulheres nas áreas urbanas do Brasil realizaram um aborto. Se incluída a zona rural, esse número sobe para 503 mil.
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