Ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro
O ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) novamente atacou o presidente Jair Bolsonaro (PL). Em entrevista, o ex-ministro alega que a falta de autonomia que a Polícia Federal enfrenta é culpa do atual presidente da República. Segundo Moro, ‘ninguém mais é preso’.
“A Polícia Federal não tem hoje a mesma autonomia que tinha na época da Lava Jato. Tanto que as operações de investigação por crimes de corrupção caíram abruptamente e praticamente não se vê mais ninguém sendo preso. Isso por conta em parte do presidente da República, que não dá essa autonomia, e porque há esse clima desfavorável de investigações de corrupção, um clima de intimidação, que vem de parte de outros Poderes”, afirma o presidenciável.
Um dos representantes da ‘terceira via’, Moro ressaltou que não se arrepende de ter assumido o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, pois, durante a sua passagem pela pasta, sua conduta foi “fiel ao meu projeto, princípios e valores”.
Mesmo com a valorização do seu trabalho à frente do ministério, o ex-juiz disse que tem “muito orgulho de ter deixado o governo” e que foi “a melhor decisão que eu tomei”.
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“Eu tinha razões para permanecer. Não podia deixar o governo antes de o projeto anticrime ser votado. A Câmara inseriu modificações que pioraram o projeto e resolvi ficar até o veto presidencial. Foi um dos momentos no qual o presidente traiu o país e deixou de vetar alterações desse projeto que eram contrárias às suas promessas eleitorais”, explica.
Moro aproveitou para alertar que a Polícia Federal pode estar “em mãos erradas” e que há a possibilidade da corporação “ser utilizada em detrimento da população. Quando o presidente passou por cima de mim e trocou o diretor, acabaram as razões que justificavam a minha permanência e eu saí”.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou para manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR) o pedido feito pelo líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), para que o presidente Jair Bolsonaro (PL) seja investigado por suposta interferência na operação da Polícia Federal contra o ex-ministro Milton Ribeiro .
O pedido foi feito no âmbito do inquérito do STF aberto após a saída de Sérgio Moro do governo.
No pedido apresentado por Randolfe, líder da oposição no Senado, o senador pede para que sejam tomadas medidas “a fim de evitar interferências indevidas” do presidente e da cúpula do governo.
“Nesse sentido, requeremos a Vossa Excelência, na qualidade de Ministro responsável pela condução do Inquérito 4.831, que tem por objeto a interferência indevida do Presidente da República na Polícia Federal, que tome as medidas cabíveis a fim de evitar interferências indevidas da cúpula do Poder Executivo nas atividades-fim da Polícia Federal, determinando, se for o caso, a abertura de inquérito para apurar a conduta de violação de sigilo e de obstrução da justiça do Presidente Jair Bolsonaro”, diz o pedido.
Na semana passada, durante a Operação Acesso Pago, Milton Ribeiro chegou a ser preso preventivamente e foi alvo de busca e apreensão, além de ter tido o sigilo bancário quebrado, por ordem do juiz federal Renato Borelli. Depois foi solto por decisão do desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).
A PF já tinha interceptado ligações telefônicas do ex-ministro. Em uma delas, em 9 de junho, ele contou à filha que conversou por telefone com Bolsonaro. Segundo Milton Ribeiro, o presidente disse na época achar que fariam uma busca e apreensão contra o ex-ministro.
O diálogo levou o MPF a apontar houve indícios de vazamento e “possível interferência ilícita por parte do presidente da República Jair Bolsonaro nas investigações”. A partir disso, solicitou o envio do caso ao STF, tribunal que pode processar o presidente da República, o que foi autorizado pelo juiz federal Renato Borelli.
No telefonema com a filha, Milton Ribeiro afirmou: “A única coisa meio… hoje o presidente me ligou… ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? É que eu tenho mandado versículos pra ele, né?”
Depois disse “”Não! Não é isso… ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios né…”.